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sábado, 20 de agosto de 2011

V

Texto escrito ao som de muito Vanguart e, portanto, é indispensável a leitura dele ao som dessa banda. Escrito em agosto de 2011.




        E aí tu me falou: "Eu tô cansado desses descoladinhos todos homogêneos que nunca têm algo a mais"; E eu disse pra mim mesmo: "Eu sou aquele cara com algo mais"; Depois, eu te disse: "Tô solteiro". Mas não disse como quem queria alguma coisa. Essa coisa é que foi chegando devagar como quem não quer nada, e assim que entra senta no sofá e põe o pé na mesa. E essa coisa tomou corpo. Na verdade, essa coisa tava sempre lá fora, esperando pra entrar, sempre foi algo latente só esperando pra poder criar forma. E tu me disse: "Sempre foi assim, feito comida de microondas que tá só esperando pra ser esquentada"; E aí eu abri a porta pra essa coisa e ela entrou derrubando tudo. Cresceu, aumentou a intensidade em um tempo curtíssimo, fomentou todo o desejo de 7 dias de conversa que tornaram-se pura espera e agonia. Foi o teu sete ímpar, sete dias das mesmas músicas; "Tirei a flecha do teu colo, cuidei do ferimento ao coração." ; E depois de toda uma semana de espera eu finalmente pude dizer: "Você não têm idéia do quanto eu esperei isso."; Mas na verdade eu sabia que você também tinha idéia, você também teve essa coisa que chegou derrubando tudo.
        E finalmente eu senti você. Toda aquela semana se concretizou em alguns minutos. Primeiro, um beijo demorado. Depois de uma longa caminhada, e muita conversa. E teve uma vez que eu te disse: "Eu quero te conhecer, quero saber cada nuância da tua personalidade, cada traço."; Eu conheci bem de perto teu sorriso. Ouvi atentamente tua voz. Eu queria captar cada momento, guardá-los todos em uma caixa, como uma caixinha de música, eu abro-a e ouço tua voz sempre que quiser. E tu me disse: "Você é um canalha egocêntrico."; E pra mim isso soou como um elogio. Mas no fim, eu soube que você ficava encantada com o sorriso de canalha, depois disso eu não consegui sorrir de outra forma.
        E teve o café, o gosto amargo do meu, o doce do seu. As pernas enlaçadas sobre o sofá vermelho. E eu te disse: "Tudo deveria ser vermelho."; Mas na verdade não, eu só precisava ver o teu batom vermelho, que logo que eu te vi já havia saído dos teus lábios. E depois eu te disse: Tem um cabelo teu na minha roupa."; E você me respondeu: "Têm muitos, e eu estou adorando isso."; Agora, eu posso dizer, com total certeza, que eu não estou adorando os cabelos grudados, eu tô adorando é o teu perfume que ficou na minha jaqueta. "Não tô viciado, quando eu quiser eu paro."
        Tudo isso aconteceu no meio de uma guerra de egos. Eu quero te ver louca, você, quer que eu desça do pedestal. E eu te digo novamente que isso é apaixonante. É o desafio que tu me proporciona, é o sarcasmo das brincadeiras, é a tarde falando sobre filmes e literatura. E depois de um beijo tu falou: "Teu cabelo enroscou no meu."; E nós falamos sobre o clichê de tudo isso, a verdade é que nós não somos clichê algum, eu e você somos muito mais que os relacionamentos homogêneos das novelas. Conosco é: "Teu ego enroscou no meu."; Depois, tu me disse: "Eu não consigo ser romântica, e não consigo reagir à alguém sendo assim comigo."; Só que outra hora, enquanto tu me fazia alguns carinhos tu me disse: "Eu estou acariciando tuas linhas."
        Eu ainda sinto tua pele tocando a minha, a nuca, as costas, os esmaltes escuros que deixam tua mão longilínea, com as unhas arranhando levemente a minha pele, tuas mordidas que marcam o meu pescoço. Eu ainda sinto teu corpo pequeno, as tuas pernas encostando nas minhas, tuas mãos dadas às minhas. Eu ainda ouço tua voz, e vejo teu sorriso.
        Hoje, feito a música, foi só "O céu, você e eu."




"Eu vou te amar como um raio que se opôs ao curso do céu."

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