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domingo, 28 de agosto de 2011

Tua epifania.

Escrito no final de agosto de 2011. Teus agostos tão atribulados das tardes cinzas.






       E tu me falou: "Me fala uma lembrança da sua infância"; E isso foi o catalisador do meu estado. Primeiro, as piadas. Depois as lembranças mais antigas do chão vermelho. Os três dedos do aniversário. Alguma luz, e a casa sempre bem iluminada nos primeiros meses do ano, alguns doces, e a páscoa. Toda aquela vida que eles preferiram deixar para trás, que um ano e meio ainda reteve na memória. Depois disso, do início, do estopim, a torrente de palavras deslanchou. Te falei das árvores que não conseguimos abraçar, te falei da vida que já havia passado muito tempo. Da voz das professoras do primário, e novamente do chão de cimento colorido. Tanta coisa que passava na mente, e que as palavras não eram rápidas o suficiente para dizê-las, dos pneus coloridos, do chão de madeira, do xadrez. E num estado de semi-raciocínio a mente simplesmente funcionava em outra frequência, as imagens sapecavam e as mãos rápidas tentavam acompanhar todo o fluxo. E tu simplesmente me dizia: "Continua"; Eu continuei. Eu tirei o coração da gaveta e comecei a escrever.
       Te falei dos medos, da origem das fobias. Te falei de deus, do karma, e do que não é destino. Te falei das coisas que nunca ninguém jamais tivera alguma noção em mim. Tu foi no íntimo das minhas tormentas só ouvindo as minhas palavras. Te falei do talento, do orgulho, do dom desperdiçado e da frustração acumulada nas lágrimas dos olhos, da música. Te falei da promessa e do dever. 
       E depois disso já não era nada mais real, nada mais pertencia ao "espaço-tempo-contínuo", a alma já dispersara-se, saía de mim, corria pelas mãos e simplesmente escrevia. Alguma tontura, os olhos turvos e depois dos meus medos tu me disse, longe da tua linguagem ferina: "Eu poderia te beijar pela eternidade"; Mas agora aquilo tudo já não eram mais os teus beijos. Era tudo o que tu tinha me causado. Tuas palavras que puxaram o íntimo de mim, escancararam a minha moral, tu me conhecendo onde nunca mais ninguém já tivera ido. E chacoalharam com todos os meus pensamentos: ". . . uma lembrança. . . "; Não eram mais teus seios nos meus lábios, minha pseudo-barba arranhando teu rosto, a respiração no teu pescoço, tuas unhas na minha carne, a mordida na minha pele. Eram só as palavras que tu tinha me feito falar. Não eram lembranças. Simplesmente não era nada. Era algo longe de tudo que tu já tinha me feito sentir.Longe de tudo que alguém já tivera me causado.  Um simples pedido e a alma escorria por toda a verborragia. Era eu, desembrulhado em palavras. 
       E a música me disse: "Onde você me leva, nem deus andará."
       Eu falei de amor, falei de futuro. Falei da sensação que tu me causa, do inevitável.
       E tu me teve tanto, em tão pouco tempo.
       A epifania. 
       Tua epifania. 
       Eu, teu. 
       Tu, minha.

E quando alguém nos faz sentir assim nós temos que agarrar a oportunidade com todas as forças, com todo o ímpeto de vontade e nos entrgar.

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