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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Minha vida em terceira pessoa

     Primeiro texto da série "isso não é amor". História apresentada fora de ordem cronológica.
Escrito em Agosto de 2011. 

      "Oi" - Disse ele timidamente.
      "Olá." - Respondeu ela, com um olhar sarcástico de desdém.
      "Então estejam apresentados, V e Jim." - Disse a outra garota.
      "Então, por que te chamam de V?" - Ele perguntou, queria puxar algum assunto.
      "Pelo mesmo motivo que te chamam de Jim." - Ela não queria estar lá naquela hora, fora obrigada pela amiga.
      "Mas Jim não é o meu nome." - Ele respondeu.
      "Nem V é o meu." - Ela sorriu e mostrou a pequena tatuagem em V no pulso.
      "Então qual é?"
      "Você não vai saber." - Ela estava desafiando-o.
      "Uhm, estamos com os ânimos inflamados!" - Disse a segunda garota.
      "SHHHH!" - Fez V, discretamente para que a outra garota se calasse.
      Por alguns segundos Jim percebeu-se olhando atentamente para V. Via os pés pequenos enfiados em saltos vermelhos. A meia calça sobre a pele levemente morena. A saia de pregas. Uma jaqueta de couro. E os lábios vermelhos. Mas não, não era isso que lhe prendia a atenção, eram os olhos. Grandes olhos de pupilas negras que destacavam-se em meio ao rosto pequeno e os cabelos cortados curtos. Havia algo neles que prendiam a atenção e o hipnotizavam.
      "Então, vamos pegar alguma bebida?" - Disse a segunda garota, tentando quebrar os primeiros segundos de silêncio.
      "Pode deixar que eu vou." - Disse Jim.
Ao Jim virar as costas as duas garotas começaram a cochichar:
      "E aí, o que você achou dele?" - Perguntou a garota.
      "Sei lá, ele tem cara de ser um babaca." - Respondeu V. "Quando é que ele volta com as cervejas?"
      "Ah, não seja assim. Eu toda disposta trago um cara pra você conhecer e você não é nada receptiva." - De longe a garota viu Jim se acotovelando no meio da multidão.
      "E aí, do que vocês estavam falando?" - Disse ele ao chegar, enquanto entregava as respectivas cervejas.
      "Falávamos que esta música está atrapalhando a conversa." - Disse V. 
      "E essa multidão me deixa claustrofóbico." - Disse Jim.
      "Por que vocês não vão para a parte de fora da festa pra conversar?" - Propôs a outra garota, tentando interceder.
      "E agora?" - Ele pensou. Os segundos passavam. V bebia um longo gole da cerveja. "Lá fora nada, vem dançar." - Ele pegou a cerveja da mão de V, e entregou para a outra garota. Puxou V pelas mãos até a pista.
      "Você me disse que multidões te deixavam claustrofóbico." - Disse V.
      "E deixam mesmo." - Jim respondeu.
      "Então fecha os olhos." - Falou V.
      "E como é que eu vou ver você?" - Ele perguntou.
      Ela riu, estavam enfiados na bagunça de gente que aquele lugar havia se tornado. Agora quem estava sendo puxado pelas mãos era ele. Ele percebeu as mãos frias dela tocando em seus dedos. As unhas vermelhas dela correram pelos seus braços, seu ombro, até juntarem-se atrás de seu pescoço. Ela aproximou a boca do ouvido de Jim e disse:
      "Você não precisa me ver pra dançar, só sentir que eu estou aqui na sua frente."

Continua.

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