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sábado, 20 de agosto de 2011

78 Rotações.


  Texto que sucede "Ofélia", escrito em agosto de 2011.


       “Eu tirei o coração da gaveta e novamente comecei a escrever.”
       “E essa nossa história é feito um parágrafo inacabado. Quantas palavras faltaram escrever naquelas coisas que eu dizia? Eu era o poeta desesperado e você a imagem encarnada do Arlequim sarcástico. O único problema é que quem foi feito de palhaço foi eu. Só que essa nossa peça uma hora ia acabar. Enquanto eu me rasgava em pedaços você sambava sobre as minhas lágrimas. Quantas vezes eu ainda vou me lembrar disso?”
       Já era noite e ele estava sentado, com a porta aberta, na sacada. Ouvia-se algo no toca discos. Ainda que ele não conseguisse distinguir o tocava ele parou de escrever para prestar a atenção. Do segundo andar ele via as três vias da rua. Era uma movimentada e barulhenta. Ainda assim ele insistia em ouvir o toca discos. - “Não há 78 rotações que me farão esquecer dessa música.” - Ele sorriu. Havia reconhecido a música. Voltou a escrever na pequena caderneta de couro.
       “É irônico lembrar que nós dizíamos que as lágrimas secavam por si mesmo. Lembra quando quando tocávamos essa música no piano? Não, as minha lágrimas ainda não secaram.”
       Já havia passado-se mais de um mês. Agora ele estava na fossa, mas não fora sempre assim. Ele já tivera o seu período de glória orgulhosa e arrogante. Ele odiava estes momentos de si mesmo. Ele queria aquilo, ele queria aquela garota. Mas tivera sido orgulhoso. E agora pagava pela arrogância. 
       “O pior de tudo não é a sensação de impotência que eu sinto. A sensação de querer e não poder mais ‘ter’. É a sensação de arrependimento. É saber que eu tive a chance e eu deixei-a escorrer pelo ralo. E agora cá estou eu, vestindo essa coroa de espinhos sabendo que você não tem nem ideia alguma do que eu estou passando.”
       ” No final eu cheguei à conclusão de que ninguém esquece das coisas de verdade. Alguma coisa vai te fazer lembrar. Pode ser uma música, um cheiro, uma roupa. Foram os cigarros de cravo… “
       “Mas você me ensinou uma coisa boa. Com você eu aprendi a ser cruel. Eu precisava disso. A crueldade me levou à pouco me importar com algumas coisas. Eu me tornei mais egoísta. Eu precisava disso. Eu aprendi com o seu egoísmo.”
       “Eu estou aprendendo a lidar com a minha instabilidade. Os surtos de orgulho a arrogância vem em seguida acompanhados de um lirismo depressivo. Eu tenho que lidar com isso. Nesse meio tempo eu vou preenchendo as páginas da minha caderneta com as coisas que eu escrevo.”
       Ele pontuou a frase, colocou a data e escreveu as iniciais de seu nome. Acendeu um cigarro e fumou enquanto ouvia a música que vinha da sala.
J.D. 19/11/08

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