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domingo, 21 de agosto de 2011

O último tango da noite - I

Primeira parte da históra escrita em parceria de Verônica Hiller, do Girl Sets Fire. Ao som de muito Carlos Gardel, Vanguart e Nelson Gonçalves.


        A rua lá fora já começava a demonstrar algum movimento. Nas primeiras horas da manhã o sol já batia através da janela do quarto. O apartamento era relativamente velho. Já começava a demonstrar os primeiros sinais do tempo. O chão de madeira já estava bem riscado devido aos saltos dos sapatos dela. Na parede haviam manchas de água escorrida e alguma infiltrações. O forro de madeira também demonstrava manchas de água. Deviam haver goteiras no telhado.
         No quarto haviam roupas espalhadas pelo chão. Algumas coisas quebradas. E poucos móveis. As portas de um guarda-roupas abertas. A cama com a garota deitada. E uma grande estante de livros. Mas faltava uma cortina. O sol matinal batia diretamente sobre o assoalho de madeira. A luz refratava nos cacos de vidro espalhados pelo chão. Pequenos espetáculos em forma de estrela que não tinham espectador algum.
        Um disco quebrado no chão. Os cacos negros do LP haviam sido pisados de forma descuidada. O tocador estava em cima da estante, junto com uma coleção de outros discos.
Da porta do quarto podia-se ver a sala. Era um cômodo insuportavelmente arejado. Com excesso de vento. Se uma janela estava aberta o frio e o vento tomavam conta do ambiente. Viam-se alguns quadros na parede. Imagens frias, cinzas, com pinceladas fortes. Era algo expressionista. Triste. Perto do cavalete haviam algumas telas recém preparadas, apenas esperando pintura. Uma estante abrigava toda a gama de tintas. O assoalho estava sujo com pegadas de tinta, manchas coloridas, e riscado. Uma caixa de giz-de cor estava aberta no chão. Fora meticulosamente arrumada pela ordem das cores. Mas faltava uma das cores.
       Na cozinha haviam os maiores reflexos da noite anterior. A comida juntava moscas nas panelas, pratos sujos em cima da mesa. Mais taças derrubadas no chão e quebradas. Algumas garrafas todas juntas em um canto.
       O sol da manhã começou a caminhar lentamente sobre o quarto. Com o tempo ia chegando cada vez mais perto da cama da garota. Até pousar sobre o rosto dela, acordando-a. Ela abriu os olhos. Piscou algumas vezes e deu um pulo da cama. Procurava alguma coisa.

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