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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Nas paredes.

        E começar a aparar as arestas da vida. Não quero poesia, não quero lirismo e tampouco histórias. Buscar lá de trás o que ficou errado e tentar remediar. Eu olhei as paredes pintadas e vi as manchas que ficaram na tintura das outras paredes. Enquanto eu pintava uma parede as outras acabaram sujando-se, uma pincelada descuidada ou um respingo talvez. Mas o problema é que a sujeira era demais, a cor que eu havia pintado agora havia borrado todas as outras paredes da minha vida. Eu deixei essa tinta me consumir por completo, deixei-a cobrir minha pele, colorir meus pulmões e nublar os meus olhos. Mas agora, depois de ter lavado-me eu vou colorindo-me com outros pigmentos. E eu vou limpando as manchas das outras paredes. Vou atrás de terminar todas as empreitadas da minha vida, terminar a reforma pra poder seguir adiante com novas empreitadas.
        Desde um livro pra ser lido a amigos. Eu vou atrás de tudo o que eu deixei interminado na minha vida. Eu quero seguir adiante e quero seguir limpo. Quero criar coisas novas e terminar todos os parágrafos que eu comecei.
        Eu quero ser livre das sombras inconclusivas do passado.
        Talvez só ser livre das lembranças.
        "Tô escrevendo um livro, tô fazendo engenharia, tô procurando um emprego e tô namorando."

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Tanta delonga.

- Merda.
- Merda o que?
- Tô com falta de ar.
- Porque?
- E eu lá sei?
- Tenta descobrir.
- Não quero descobrir, quero resolver.
- Mas pra resolver você tem que pelo menos saber o que é.
- Tô tentando ser prático, ir direto na solução do problema.
- Mas você tem que começar na raiz do problema.
- Certo, porque eu estou com falta de ar?
- Eu é que te pergunto.
- Argh, essa merda não passa.
- Vai, respira fundo.
- Tá.
- Agora expira.
- Tá.
- Agora inspira de novo bem devagar.
- Assim?
- Mais devagar.
- Tá bom?
- Enche todo o teu pulmão.
- Aham.
- E agora assopra.
- Não adiantou merda nenhuma.
- Você também não colabora.
- Pô, eu fiz tudo o que você falou.
- Mas fez errado.
- Me dá um cigarro.
- Cê tá louco? Tá aí sem conseguir respirar e ainda quer um cigarro?
- Ah, nem faz mal.
- Faz sim.
- Me dá um aqui.
- Não.
- Tá.
- Tá o que?
- Nada.
- Vai ficar emburrado aí?
- Não.
- Tem certeza?
- Tenho.
- Então me dá uma resposta direita.
- Viu que hoje tem Fight Club na TV?
- Não mude de assunto.
- Mas o assunto já acabou.
- Acabou nada, você ainda está aí com falta de ar.
- Ah, logo passa.
- Mas o que será que é?
- Não sei.
- Quer ir lá fora?
- Não, obrigado.
- Então eu vou abrir a janela.
- Tem vodka?
- Que?!
- É, vodka.
- Tá na geladeira, mas você não vai beber.
- Porque?
- Vai piorar essa tua falta de ar.
- Vai nada. Vodka é refrescante.
- Refrescante é minha mão na tua orelha.
- Vodka é tipo você.
- Como assim?
- Pungente, refrescante e entorpecente.
- Ah, seu lindo.
- Acho que essa minha falta de ar é alguma coisa que eu tenho pra falar.
- Então fale.
- Nem precisa.
- Fale.
- Não, não. Tô susse.
- Pare de se enrolar e fale.
- Acho que eu só se esqueci como respira mesmo.
- Isso é impossível.
- É que eu não estou mais respirando no automático.
- Isso é impossível.
- Nem é.
- Fale o que você tem pra falar.
- Nada não.
- Eu não vou desistir enquanto você não falar.
- Ah.
- Ah o que?
- Ah nada.
- Então fale.
- Falar o que?
- O que está te tirando o ar.
- É você.
- Eu o que?
- É que eu te amo. Minha boneca.
. . .
- Passou.