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domingo, 2 de outubro de 2011

Sobre casas e amor.

       E eu andava, pisava na areia descalço, deixava algumas pegadas no tempo. Os vales criados pelos meus pés eram preenchidos de água e levados pelo mar. E foi mais ou menos assim que eu vivi durante algum tempo, com águas nos pés. Eu simplesmente andava, e não deixava pegada alguma. Vivi, simplesmente por andar, deixei que a água me envolvesse e molhasse a barra da minha calça. E eu percebi que a cada passo que eu dava, a água insistia em novamente contornar meus pés, fluía rapidamente e grudava na minha pele. Com meus dedos enrugados eu chutei a água, gotas espalharam-se pelo ar. Nada adiantou, a água tomou rapidamente o seu lugar, continuou incólume me cercando, me desafiando. E eu andei.
       E eu descobri, que a única coisa que eu precisava era andar para fora da água. Eu não era obrigado a estar lá, era tão simples. E assim, eu segui em direção à areia. Meus pés empaparem-se de sujeira. Mas a água já secara, e meus pés novamente deixavam a sua marca nas areias do tempo. Os pés cansados começaram a deixar suas pegadas, nada era mais encoberto pela água.
         Foi aí que eu encontrei tuas mãos. Alguém para rabiscar os nossos parágrafos na areia. Alguém que já estivera caminhando distante ao meu lado, que só agora eu fora me aproximar. Peguei nas tuas mãos, afaguei teus cabelos, e nós andamos. E eu quis que tu me contasse teus segredos, me fizesse as tuas perguntas. E como se o amor se alimentasse de arte e beleza ele cresceu, tornou-se grandioso. De ti, eu arranquei o medo que te fazia hesitar. Construí envolta de ti um castelo com paredes feitas de poesia. Só pra ver tu se libertar, alimentar-se da beleza e deixar o amor dentro de ti florescer. 
        Nós caminhamos até a minha casa. Do chão de madeira, às paredes quentes. Antes de entrar eu quis tirar toda a areia dos meus pés. Limpar de mim toda a sujeira da lembrança de onde eu já havia andado. Entrei lá sem que um grão de areia do passado pudesse entrar nos meus olhos. Te apresentei os cômodos, tu sentou-se no sofá e acomodou-se. Eu te fiz aconchegar-se, te encobri de carinho e te dei conforto. E agora, eu quero te levar pro andar superior, te mostrar os quartos mais secretos da minha edificação. Te levar à lugares onde nunca ninguém jamais chegou.
        E quando eu te pus todos os dias pra dormir, na cama de dossel que te encobria de amor, eu derramei minhas palavras sobre ti até tu adormecer. E espero que todos dias quando acordar, tu tenha meus parágrafos pra fazer teu dia. Tenhas contigo a minha voz.

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