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terça-feira, 3 de julho de 2012

Le sacre du printemps

Continuação de Fel.


Quais segredos você esconde?
"Você tem até o cigarro terminar" - Ela disse. Acendeu um cigarro e colocou-o no cinzeiro ao lado da cama.
Mas ela te devia, não?
Mensurando o tempo em cigarros.

E quanto tempo você perdeu com ela? Você achava que era bom cuspir o amargo do desejo
e assoprar a fumaça de medo do seu peito.
Afinal ela era só uma puta barata, não?
Barata.

E enquanto baratas correm pelo chão acarpetado do motel ela te chupa.
E o cigarro queima. Um cigarro queimando sem ninguém fumar dura no máximo quinze minutos.
Mas você deu uma carteira inteira para ela. Não é por isso que ela está aqui?
E quanto tempo você comprou dela então?

Você sabe apenas do tempo que os cigarros te tomaram por causa dela.
Um cigarro queimando enquanto alguém fuma dura no máximo cinco minutos. É mais ou menos essa a história.
Você fumou avidamente todo o tempo que tinha com ela.
E engasgando-se com a fumaça você disse: "Para, não é isso que eu quero."


Mas você quer rasgar seu peito
esfregar as vísceras na cara dela
dizer o que tem feito
e gritar com esta cadela.


Precipitado.
Medroso.
Fraco.
E vil.

Você compraria uma guria por apenas uma carteira de cigarros?
Mas foi ela quem se vendeu.
Vil.
O que ela esconde você?

Afinal, ela era só uma piada, não?
"Como assim para?" - Ela disse.
Você sabe apenas do tempo que ela te tomou por causa dos cigarros.
"Eu quero conversar." - Você é medroso.

Quatro minutos se passaram.
Ela de quatro na sua frente
no quarto do hotel.
Durante quatro segundos ela te olhou.

Um café oleoso
um cigarro amassado
amor desgostoso
e teu peito descamisado

Visceral.
"Eu vou embora."
E você chora.
"Não estou aqui pra conversar."

Você implora.
"O que é que quer?"
"Eu quero me entorpecer."
Cigarros são muito pouco.

E você compra o tempo dela,
não com cigarros:
"Eu quero algo mais forte,
eu não quero amor."


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