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quinta-feira, 18 de julho de 2013

Ensaio

Texto escrito para a Corrente Literária de 18/07/13 - "Amor, O que é para você?" 


(As cortinas abrem.)

(O cenário é composto de folhas espalhadas pelo chão, rosas brancas também estão espalhadas. Há uma mesa posta e seis cadeiras, e um gazebo de madeira ao fundo. A luz é de um tom avermelhado.

(Mira entra correndo, olha para os lados, vira parte louça que está em cima da mesa no chão e sai.)

(Mira volta trazendo Fausto. Fausto está com os pulsos amarrados e a boca amordaçada, e tenta resistir.)

(Mira faz Fausto sentar em uma das cadeiras.)

(Mira senta-se na cadeira oposta.)

Mira: Sabe, eu vou falar pra você, vou falar do que eu sofri, do que eu amei, do que eu chorei e de tudo o que eu acreditei.

(Mira apanha uma xícara, enche de chá e toma um gole.)

Mira: Eu acreditei que você era real, Lance. E para mim você sempre esteve um degrau acima. Algo que eu nunca poderia alcança. Na nossa peça estávamos fadados a não terminarmos juntos, é tragédia, eu sei. Mas agora você é meu. Esteve tão longe tanto tempo, e repetidas vezes sob as luzes eu te amei. E quando Guinevere gritava eu te amo, era eu. Cada ato que Guinevere encerrava chorando, era eu.

(Mira toma mais um gole, deixa a xícara na mesa, levanta-se e se apoia com os braços na mesa.)

Mira: Eu te amo, Lance. Eu te amo. Eu te amo e quero que você fique comigo para sempre. Eu te amo e quero morrer junto com você. Eu te amo e quero você para mim. Eu te amo. Eu te amo.

Mira (Alterada): EU TE AMO.

(Mira sobe na mesa, gatinha até Fausto, retira a mordaça e o beija. Fausto tenta evitar, mas não consegue.)

(Mira segura o rosto de Fausto nas mãos carinhosamente.)

Mira: Eu te amo e você é finalmente meu.

Fausto: Mira, eu não sou o Lance. Lance é meu personagem. Você está descontrolada. A peça é pesada, nós já estamos no palco fazem meses. Mas a temporada já está por acabar. Me solta e vamos conversar.

Mira (Gritando): NÃO! Eu não sou a Mira. Eu sou Guinevere. Fui rainha, fui guerreira. E agora eu mudei o final da nossa história. Lance meu amor, você vai ficar vivo.

Fausto: Então me solta,  Guinevere. Que nós conversamos.

(Mira sai de cima da mesa, apanha uma faca da mesa e corta a mordaça que pende no pescoço. Ao dar a volta por trás da cadeira ela aproxima-se do pescoço de Fausto e lhe dá um beijo.)

Fausto: Certo, então por que você me ama?

(Mira corta as amarras das mãos.)

Mira: Eu te amo porque a Guinevere te ama.

Fausto: E por que você me sequestrou e me levou para esse lugar?

Mira: Para que a gente possa ficar juntos para sempre. Para que eu possa lhe dizer coisas bonitas, para que nós fiquemos velhos juntos. Para que o mundo veja o quanto eu te amo.

(Mira volta a se sentar)

Fausto: E que amor é esse, que eu não te amo?

Mira: Eu te faço me amar.

Fausto: E se eu nunca te amar?

Mira: Um dia vai.

Fausto: Você não me ama.

Mira: Amo sim.

Fausto: Isso não é amor.

Mira: Por quê?

Fausto: Eu não sou Lance. Lance é apenas um personagem. Você me idealizou, e amou uma imagem. E me quis me amar como as imagens te mandaram. Amar não é morrer junto. Amar não é o que os outros vêem.

(Mira tapa os olhos com as mãos.)

Fausto: Amar é sinônimo de ser feliz.

(Mira olha Fausto com os olhos marejados.)

Mira: Mas eu te faço feliz.

Fausto: Mas não é com você que eu quero ser feliz.

Mira: Mas o Lance quer.

Fausto: Você não é Guinevere.

(Mira começa a chorar)

Fausto: Amor é muito mais do que qualquer ideal. Amor são dois sendo um só. Não é uma imagem, não é um personagem e não é uma peça em que se representam papéis. Amor são duas almas na mesma frequência que se encontraram e agora cantam a mesma canção.

Mira: Meu amor, me dá mais uma chance. Eu não vou ficar satisfeita enquanto eu não te abraçar bem forte.

Fausto: Amor são duas vidas que se constroem juntas. Milhares de desejos que dois buscam e focam em apenas um. Mia, você não me amou.

(Mia em silêncio se levanta, apanha uma faca e vai até Fausto.)

Fausto: Amor são dois sendo felizes juntos. Quando não há felicidade não há amor.

(Mia corta as amarras dos punhos.)

Fausto: Nascemos intrinsecamente tristes. Precisamos viver com alguém que amamos para sermos felizes.

(Caem as cortinas.)

Um comentário:

  1. Ainda tou muito emocionado depois de ler seu texto, Lucas.
    Me calou inteiro, me disse um tanto, mas mexeu com o passado, atingiu em cheio as reminiscências, justamente as queria deixar dormindo eternamente. Passei a noite sonhando com alguém que nem lembrava mais da existência.
    Gosto assim, quando a gente é mexido por algo que não espera.

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