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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A esfinge.

Para ser lido ao som de Preciso Me Encontrar, do mestre Cartola. Música que vem embalando minha semana.


Estranhos são os segredos que guardamos nos olhos. Escondemos na pele e metemos por entre as dobras das roupas. Disfarçamos com gestos e trejeitos. Tudo para não revelarmos o mistério de nós.

Decifra-me ou te devoro.

Podia muito bem ter sido uma Rainha Egípcia, tinha o porte de tal. O olhar soberano que vê tudo de cima. Com os lábios finos crispados ao som do próprio silêncio. De batom vermelho, delineando com esmero os lábios de guria. Podia muito bem ter sido menina. Com pele lisa, seios pequenos e membros longilíneos. Vi-a deslizar pela plataforma com a graça de uma garça. Podia muito bem ter sido bailarina. Que com passos largos entrou no ônibus. Valsou no segredo do olhar, buscando na canção silenciosa um lugar para encostar. Podia muito bem ter sido uma guerreira africana, de cabelo raspado e pele negra. Com os músculos delineados saindo pelas mangas da camisa. Mas tinha mãos de piá, com dedos curtos e unhas roídas. E no cenho dos olhos ficava o vale onde lhe fugia a graça. Com olhos de animal selvagem, a espreita do inimigo. A ferocidade inata transbordava através dos óculos escuros.

Poderia ter havido muita história.

Podia ter dito muita coisa.
Talvez eu diria que ela me deixou sem ar. Que nos segundos em que eu a vi, eu esquadrinhei cada pedaço de pele visível que ela mostrava. Que eu nunca havia visto tamanha beleza. Que na verdade o que eu queria era fazê-la minha naquele momento, não importassem os outros passageiros. Que eu lhe daria a minha vida, e o meu futuro. Que eu não ouvi sinos, nem vi foguetes, que ao invés disso fui tomado por uma penumbra hipnotizante, que fechava-se ao meu redor, que fazia-me afogar pouco a pouco, que me roubava os sons, que cada segundo ela ficava mais distante, sumindo no horizonte da minha visão. Que eu imaginei histórias, que tivemos filhos, e os filhos nos deram netos, que sorrimos e que choramos, e que um dia quando velhos nos demos as mãos e partimos juntos. Que no fim tivemos um fim feliz.

Podia ter sido muita coisa, mas não foi nada. Foi embora, apenas.
Talvez eu diria que por um segundo eu a amei.

Porta Fechando.

2 comentários:

  1. Completamente apaixonada por textos tão descritivos.

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  2. tava zapeando o blog da verônica e passei aqui também e precisei comentar. os sentimentos transbordam pelas linhas que voce escreve. sinto vontade até de não rejeitar os meus próprios. sério. esse e o nescafé estão APAIXONANTES.

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