Conclusão da história que começou com Bullet With Butterfly Wings
Você adormeceu achando que ela iria voltar da igreja. Sabendo que ela não havia ido pra rezar você deitou na sua cama e fez as suas orações. Você não rezava desde moleque, talvez por medo, insegurança, ou por saber que ela não ia voltar você juntou as mãos e rezou. Não para Deus. Não para divindade alguma. Mas para si mesmo. Implorando baixinho, murmurando para a sua alma, fiel de mentirinha, crente egoísta. Deitou-se na cama, mas não dormiu.
Ficou apenas olhando a luz da rua que entrava ritmicamente pela janela do seu quarto, acompanhando a curva que a luz dos faróis dos carros faziam no feixe da cortina. E aquilo era sufocante.
Sufocante ver o preto das paredes te encarando. O laranja da luz serpenteando.
Olhando a poesia e a seringa no criado mudo. A poesia tinha borrados de tinta. A seringa tinha pingos de sangue encrustado. Cada um com a mancha que lhe cabe.
E você dorme.
Você não viu ela chegar. Sorte sua que você não viu. Se não você teria visto o estado em que ela se encontrava. Tremendo feito um peru ela vasculhou as suas gavetas. Com todas as forças controlava os pés para não fazer barulho enquanto andava. As feridas na pele haviam voltado. E os feixes de luz da rua a iluminaram quando ela pegou a bíblia.
Ela sabia que você não rezava, por isso havia escondido lá.
Ela pega a última dose que tem, e sai.
Você acorda. Acorda sabendo que ela não vai estar lá. Mas mesmo assim, antes de abrir os olhos você tem esperança de que ela esteja adormecida do seu lado. Você tem esperança de encontrar ela em algum lugar da sua casa. Nem que fosse chapada no chão, ou bêbada no banheiro. Mas ela só lhe deixou o vazio.
Lhe deixou apenas o vazio e a bíblia aberta caída da prateleira da estante.
Se você ao menos rezasse você saberia o que aconteceu.
E você segue a sua vida normalmente, dia após dia sabendo que ela não vai voltar. Você troca os lençóis, os lava até que todo o vestígio do cheiro dela saia. Muda os móveis de lugar e joga fora as garrafas de bebida. Lima os cinzeiros que ela deixou cheios. E se dá por falta da seringa.
Os dias passam. E todos os dias você ainda acha que quando acordar ela vai estar adormecida do teu lado.
Os dias passam e você não vive mais.
Apenas sobrevive.
Se você estivesse acordado você teria visto ela sair. Teria ouvido quando a bíblia caiu no chão. Teria visto quando ela apanhou a seringa e saiu. Teria visto os feixes de luz iluminando a porta fechando devagarinho. Também teria visto quando ela entrou mais uma vez. Quando ela se aproximou da sua cama, abaixou-se e disse: Eu te amo.
E finalmente, teria visto ela sair para não mais voltar.
Ela tomou a última dose de você.
- Ei cara, me arruma um maço de cigarro que eu te pago um boquete. - Diz ela na porta do café para o primeiro que passa.
Afinal, se você sair antes das luzes acenderem você não precisa ver o que fez.
Você adormeceu achando que ela iria voltar da igreja. Sabendo que ela não havia ido pra rezar você deitou na sua cama e fez as suas orações. Você não rezava desde moleque, talvez por medo, insegurança, ou por saber que ela não ia voltar você juntou as mãos e rezou. Não para Deus. Não para divindade alguma. Mas para si mesmo. Implorando baixinho, murmurando para a sua alma, fiel de mentirinha, crente egoísta. Deitou-se na cama, mas não dormiu.
Ficou apenas olhando a luz da rua que entrava ritmicamente pela janela do seu quarto, acompanhando a curva que a luz dos faróis dos carros faziam no feixe da cortina. E aquilo era sufocante.
Sufocante ver o preto das paredes te encarando. O laranja da luz serpenteando.
Olhando a poesia e a seringa no criado mudo. A poesia tinha borrados de tinta. A seringa tinha pingos de sangue encrustado. Cada um com a mancha que lhe cabe.
E você dorme.
Você não viu ela chegar. Sorte sua que você não viu. Se não você teria visto o estado em que ela se encontrava. Tremendo feito um peru ela vasculhou as suas gavetas. Com todas as forças controlava os pés para não fazer barulho enquanto andava. As feridas na pele haviam voltado. E os feixes de luz da rua a iluminaram quando ela pegou a bíblia.
Ela sabia que você não rezava, por isso havia escondido lá.
Ela pega a última dose que tem, e sai.
Você acorda. Acorda sabendo que ela não vai estar lá. Mas mesmo assim, antes de abrir os olhos você tem esperança de que ela esteja adormecida do seu lado. Você tem esperança de encontrar ela em algum lugar da sua casa. Nem que fosse chapada no chão, ou bêbada no banheiro. Mas ela só lhe deixou o vazio.
Lhe deixou apenas o vazio e a bíblia aberta caída da prateleira da estante.
Se você ao menos rezasse você saberia o que aconteceu.
E você segue a sua vida normalmente, dia após dia sabendo que ela não vai voltar. Você troca os lençóis, os lava até que todo o vestígio do cheiro dela saia. Muda os móveis de lugar e joga fora as garrafas de bebida. Lima os cinzeiros que ela deixou cheios. E se dá por falta da seringa.
Os dias passam. E todos os dias você ainda acha que quando acordar ela vai estar adormecida do teu lado.
Os dias passam e você não vive mais.
Apenas sobrevive.
Se você estivesse acordado você teria visto ela sair. Teria ouvido quando a bíblia caiu no chão. Teria visto quando ela apanhou a seringa e saiu. Teria visto os feixes de luz iluminando a porta fechando devagarinho. Também teria visto quando ela entrou mais uma vez. Quando ela se aproximou da sua cama, abaixou-se e disse: Eu te amo.
E finalmente, teria visto ela sair para não mais voltar.
Ela tomou a última dose de você.
- Ei cara, me arruma um maço de cigarro que eu te pago um boquete. - Diz ela na porta do café para o primeiro que passa.
Afinal, se você sair antes das luzes acenderem você não precisa ver o que fez.
Sensacional!
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