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sábado, 7 de julho de 2012

Jigsaw falling into place.

Texto baseado na música do Radiohead.
Continuaçao de Le sacre du printemps.

"Mais uma, por favor." - Você diz.
E você tinha dito que iria parar de fumar.
Mas de beber não. E você sorri feito Cheshire.
Você se esquece do seu dia ruim.

A bandinha toca um samba sincopado ali ao lado. E você espera que a canção acabe. Você espera que a sua canção acabe. Você espera que a canção dela acabe.
Você apenas espera. Você pacientemente espera que tudo acabe. Mas sabe que não vai passar.
As batidas reverberam no piso de cerâmica, voltam para seus ouvido e vão parar dentro da sua cabeça. Mas não, não era o samba que te fazia sentir isso. Não, não era o álcool que te fazia sentir isso.
Era ela que te fazia sentir.
Desconforto.

E o que você sentia eram borboletas nos pulmões. Já havia passado das do estômago faz muito tempo. Agora era ruim. Claustrofóbico. E o que você sentia era o seu peito comprimindo as suas costelas para fora. O que você sentia era a sua alma gritando de dentro da sua caixa torácica. Pedindo misericórdia. Pedindo que você parasse de amar. Que parasse de sofrer. Você, pedindo a si mesmo misericórdia. Você está se destruindo.

Ela era só uma puta barata.
Mas alguma coisa ela devia querer de você.

As câmeras capturam um cara bêbado em uma mesa. Arrotando palavras amargas pra quem quiser ouvir. Sibilando as lágrimas. E cantando na batida sincopada um lamento. Você sente as luzes nas suas costas. Você ouve as gurias dançando. Mas você está muito bêbado para ir atrás dela.

E você acende um cigarro.

E tudo aquilo consome você. As luzes ofuscam o seu olhar. As paredes tornam-se difusas. Os rostos agora são apenas um borrão de um sorriso. E lentamente você vai caindo naquela espiral de entorpecimento. Vai se sentindo enjoado. E o gosto ácido vem a sua boca. Você precisa ir ao banheiro. E rápido.

Onde foi que você chegou? Vomitando no banheiro de um botequim qualquer por causa de uma vagabunda que nem lembra mais de você.
Pare de se humilhar.

Mas tudo isso começou muito antes do samba. Muito antes dela ir embora e antes dela fugir de você. Muito antes da primeira cerveja. Muito antes do primeiro cigarro. E tudo o que você disse a ela machucou. - "Palavras são feito uma espingarda de cano curto". - Não era assim que a música preferida dela cantava?

. . .ela te disse que queria algo mais forte pra se entorpecer, que não queria amor. Você disse pra ela que queria conversar. Ela disse pra você que agora não te devia mais nada. Você perguntou para ela o que ela queria. . .

Ela não queria amor. Ela era só uma puta viciada.
Então você deu a ela o que ela queria. E agora ela estava completamente chapada na sua cama. Com os olhos vidrados e sem olhar para lugar algum. Mas de certa forma você amava aquela letargia. Ela ali completamente vulnerável.
Ela fazia você se sentir superior. Ela ia precisar de você enquanto você desse o que ela quisesse.

Ela só queria algo pra se drogar. Você queria amor.
Cada um com o vício que lhe cabe.
Foi aí que começou.

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